quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

Equilíbrio de vida, sobredotação e companhia: a arte da felicidade...

>> E quando se é sobredotado?

"Se somente eu pudesse ser feliz de tempos em tempos, eu poderia suportar todo o resto." Virginie, 22 anos, esgotados de uma luta obstinada em se sentir bem.
"Eu li um livro que aos hiperinteligentes falta a aptidão à felicidade. É certamente verdadeiro, mas eu tenho vontade de responder que não se pode ser bom em todo lugar. Se se refletir bem, eu tenho toda a vida para ser infeliz... em que é bom ser precoce (2)?"
(2) Tonino Benaquista, Tout à l'Ego, Gallimard, 1999.

É o momento de empregar 'inteligentemente' todos nossos tesouros de guerra: do menor átomo de inteligência à menor partícula de sensibilidade, e compreender com sua cabeça e seu coração, como a canção Mowgly no 'O livro da selva': "É preciso pouco para ser feliz, verdadeiramente pouco para ser feliz, é preciso se satifazer do necessário..."
Então, aqueles cujo corpo e a alma são tão sensíveis ao ambiente podem afinar cada uma das suas cordas, com sagacidade, perspicácia, eficácia, para guardar o coração de alvo como objetivo constante: o centro de si mesmo. 

Breve de consulta
Eu encontro Alain, adulto sobredotado de 46 anos. Nós falamos da felicidade, das felicidades. Eu evoco esta ideia que, para ser feliz, é importante ter recebido um pouco mais de satisfações que de provas. Numa espécie de balanço da vida. Eu me interrompo, pensativo: "Você esqueceu uma noção essencial, como é possível ser feliz sem dar. Para mim, dar faz parte das minhas maiores felicidades. Justo receber, mas não é suficiente! Dar é mais transcendente mesmo se, é claro, receber é importante. Mas é insuficiente!"

>> Dar por dar...

"O que conta na minha vida, é fazer as coisas para os outros, não por mim." Enzo tem 20 anos. Ele está triste pois tem dificuldade a admitir que essa necessidade altruísta seja tão raramente partilhada."
Para um sobredotado, dar se declina a tudo. Seu prazer é a certeza que ele pode fazer bem aos outros, que ele pode ajudar os outros a ir melhor. Encontra-se tal característica em todos os estágios da vida e em todas as circunstâncias: dar seus bombons, seus brinquedos na idade da infância àqueles mais desmunidos, dar seu tempo, sua escuta, na adolescência, para gerar os problemas de relações ou tornar-se espontaneamente o intermediário entre aqueles que não ousam se aproximar, dar de si para abraçar grande sonhos da humanidade ou ambiciosos projetos de combates contra a injustiça, dar a seu cônjuge num movimento natural para compreender e ajudar o outro, a suas crianças para as quais gostaria de tudo dar... Dar por dar. Dar como maneira de amar. Dar como sentido da vida sobre a terra.

A reviravolta da tendência natural
Encontra-se sobredotados, pequenos e grandes, particularmente egoístas. Egocêntricos. Jamais, no máximo jamais, eles desprenderão qualquer coisa deles mesmos ou partilharão o que eles têm. Eles têm personalidades que os tornam pouco simpáticos. Sua falta de generosidade conduz a rejeitá-los. Entretanto, se eles se tornaram tão personais, é contra sua vontade e contra sua natureza. Crianças, eles se entricheiraram por medo e não quiseram partilhar, por desconfiança, de intrusões afetivas que eles não teriam sabido administrar. Ou ainda, eles viveram uma sensação onipresente de invasão de seu terrritório. Precisar-se-ia exprimir o que para eles era indizível, explicar o que eles mesmos não compreendiam, precisar-se-ia mostrar os sentimentos de uma certa maneira, neste caso, onde a emoção era para eles devoradora... Eles foram assim julgados, incompreendidos, psicologicamente maltratados, involuntariamente, obviamente, mas suficientemente para tornar essas personalidades fechadas e azedas para quem dar-se constitui uma ameaça.

Reencontrar as raízes de si...
Se, no seu percurso, esses 'frustrados do dom' encontram alguém que os assegura suficientemente, que lhes oferece acesso à intimidade deles mesmos, então eles poderão reaprender este valor de dar e sair de sua prisão interior. Um novo sopro de vida e de liberdade os levará a momentos de vida plenos de promessas.

De 7 a 77 anos...

O que se sabe do futuro do adulto sobredotado?
Um pouco de tudo e seu contrário numa divertida mistura de gêneros: os que cresceram em pleno conhecimento de suas particularidades e que foram acompanhados, os que foram diagnosticados quando crianças e que foram maltratados, os que descobriram o diagnóstico através do diagnóstico de seus filhos, os que fizeram uma tentativa pessoal, mas também os que conseguiram êxito profissionalmente, socialmente, afetivamente, e os que têm o sentimento de ter passado ao lado de sua vida...
Em exemplo célebre, os cupins. Nada a ver com o animal! É o nome dado ao mais conhecido dos estudos americanos, conduzidos pelo psicólogo Lewis Terman, que estudou uma população de várias centenas de sobredotados da infância à grande idade. A maior parte das crianças incluídas no estudo de Terman eram bons alunos selecionados pelos professores, o que induziu então a um real desvio de recrutamento: as crianças já tinham encontrado boas estratégias de adaptação... E, efetivamente, quando se os encontra na idade adulta, eles têm situações profissionais de um nível elevado e eles construíram biografias de famílias equilibradas. Voltamos ingenuamente ao adágio popular: melhor vale ser rico, inteligente e em boa saúde que pobre, doente e idiota.. Um pouco simplista tudo isso!
Na França, uma observação concluída... a mesma coisa, mesmo se se trata de uma amostra microscópica (3). Trataria de avaliar a 'satisfação de vida' dos aposentados sobredotados. E eles estão bem mais satisfeitos que a média!
Um outro estudo francês sobre uma população mais importante confirma a correlação entre as funções cognitivas elevadas e um alto nível de satisfação de vida com um envelhecimento realizado. Ouf, diante disso já se ganhou, o sobredotado seria um 'velho' feliz.
Eu digo bem 'seria', pois não se pode colocar os resultados senão em perspectiva do percurso da vida. Mas se pode também pensar que mais se avança em idade, mais se desenvolve a capacidade de 'fazer a parte das coisas' e de recolocar seu lugar nos valores essenciais. Leva-se em conta finalmente que são estes que são os únicos válidos e que todas as pequenas contrariedades não merecem de nós desperdiçar a vida. Não é isto que se chama sabedoria?

quarta-feira, 9 de novembro de 2016

Capítulo 10 - Como fazer para ir bem?

Capítulo 10 - Como fazer para ir bem?

A ideia deste capítulo é de mostrar-vos como transformar, utilizar um modo de funcionamento geralmente doloroso, em força de vida, em energia liberada.
Descrever um funcionamento de uma personalidade não tem sentido senão que se possa refletir sobre novas pistas, considerar respostas à única questão válida: como fazer para se sentir bem? Saber, de acordo, mas por que fazer se não é para melhorar sua vida? Por vezes, para se lhe dar um sentido. Saber onde se vai, em plena posse de si.
Eu ficarei constrangida nestas linhas em distinguir de maneira arbitrária as principais facetas que singularizam o modo de funcionamento de um adulto sobredotado. É arbitrário, compreende-se bem. Tudo está ligado: a inteligência não caminha jamais sem a sensibilidade. A criatividade é produto direto da alquimia entre inteligência, lucidez e receptividade emocional. A empatia não adquire sentido senão se inscrita na hiperafetividade e na consciência do outro que a inteligência transforma em clarividência. 

domingo, 6 de novembro de 2016

A grande artimanha do sobredotado: as "montanhas russas"

Lembrem-se dessas manobras. Nessas subidas, vocês se sentem carregados, transportados, a ascensão é excitante, mas vocês sabem que o ápice se aproxima e o medo vos alcança. E de repente, o tombo vertiginoso, que parece vos aspirar num abismo sem fim. Tudo se precipita, emocionalmente e fisicamente. Vocês têm a sensação de uma morte iminente, tanto as percepções são violentas nos seus corpos, depois, vem o looping e, de cabeça para baixo, vocês perdem o senso das coisas, a ordem do mundo. Vocês não sabem mais onde vocês estão, vocês não sabem mais se vocês sairão vivos desta aventura. Mas então, uma nova subida inicia, vocês retomam confiança, tudo retorna possível...
A vida do sobredotado parece um pouco com isso: feita de esperanças infinitas, de decepções fulgurantes, de alegrias intensas, de poços de sofrimentos, de encadeamentos inebriantes, de sensações e de emoções contraditórias. Uma vida raramente linear. Onde se perde também rapidamente seu objetivo pois nele se encontra um novo, onde as emoções intensas estão sempre presentes, boas ou más, onde se tem sempre medo, tanto na subida quanto na descida.
Uma manobra onde se volta tranquilamente, com o único objetivo de apanhar o tufo, o pompom, seria tão mais repousante. À imagem da vida: para alguns, "rolam", dizem eles, quando se lhes pergunta as novidades de sua vida, "vai indo", respondem eles quando se fala de sua profissão. O 'pompom', é o êxito que se gostaria tanto obter. Com a ilusão de uma reviravolta de vida gratuita? Talvez seja efetivamente isto que faça avançar o mundo...

>> O dia onde a magia da artimanha interrompe-se, onde as luzes extinguem-se.
Alice tem 55 anos. Sua vida expõe-se nos jornais. Ela é conhecida e reconhecida. Mas seu par vacila. Durante vinte e cinco anos, ela e seu marido brigam com a vida e nas suas relações, eles construíram tudo juntos e ao mesmo tempo foram-se destruindo. Muito de relações de força, muito de paixão e então muito de ódio. Muito amor, é claro. A ruptura decidiu-se, a separação se fez. Ele, acaso dos encontros, apóia-se sobre uma nova ligação "que o retém". Ela tenta aventuras amorosas mas não chega a se "fixar". Seu turbilhão de vida continua: viagens, projetos, realizações profissionais, encontros incessantes e festivos, etc. Mas a ausência de seu marido torna-se, nos fios dos meses, insuportável. Com ele, a vida era difícil, sem ele, a vida é impossível. O que ela exprime sobretudo, é este sentimento de ter perdido a conexão com suas emoções. Ela sente com sua cabeça, diz ela, mas mais com suas entranhas. Por exemplo, se sua pequena filha salta nos seus braços, ela fica louca de alegria, mas não sente o prazer na profundidade dela mesma. Reação emocional, zero. Tudo lhe parece semelhante. Como se mais nada tivesse verdadeiramente importância, interesse. Um pouco como uma vida que se tornasse de repente em negro e branco. Então, Alice luta para "fazer semblante", de estar contente, de entusiasmar-se, de ter prazer. Mesmo com seu amante do momento ao qual ela está muito ligada e com o qual ela passa verdadeiros momento de prazer, ela confessa: "Por vezes eu me forço. É verdade, eu estou bem, ele é formidável. Nós rimos muito, nós falamos de tudo. Mas, na verdade, eu me entendio. É uma sensação insuportável, eu não posso mais." Esgotada, no fim dos recursos para continuar o que ela descreve como uma "comédia" onde ela se perde, ela tentará o suicídio. Mas quando voltamos a conversar, ela repete que ela não queria morrer. Justo, ela não podia mais viver assim, uma vida insípida onde não se vibra mais. "À que é bom?", insiste ela. Não, isto não é um simples quadro de depressão pela qual ela é tratada depois de muitos meses, sem efeitos notáveis. Não, pode-se levar um terapia habitual com uma paciente como Alice. Ela vos espiona, capta a menor de vossas reações. Ela está dentro da noção que você não a compreende verdadeiramente, que você faz tudo simplesmente profissionalmente e não essa pessoa sobrehumana que vai poder ajudá-la... pois sua lucidez extrema demanda uma vigilância terapêutica em todos os instantes. Como modificar a visão do mundo de Alice tanto sua sagacidade é evidente, como ajudá-la a reencontrar um equilíbrio de vida ao passo que é nos contrastes que ela se sente viva, como lhe permitir se reconectar a suas emoções se é por elas que o sofrimento chegou? O que é difícil, muito difícil, para o terapeuta, é não relaxar no caminho, não dizer repentinamente uma banalidade ou tentar fazer crer que o impossível pode se tornar considerável. E, para Alice, o impossível é 'recuperar' seu marido pois ele está no centro de tudo o que ela construiu. Para ela e para sua família. E não se trata nem de inveja, nem de orgulho, nem de amor-próprio. Talvez mesmo não de amor em resumo. Mas, como frequente no adulto sobredotado, num sentido profundo de engajamento que torna o liame indestrutível, eterno, de um apego infinito que torna a ruptura impensável. No verdadeiro sentido do termo. Não é que ela não queria avançar na sua vida diferentemente, mas ela não pode. Ela não é feita como esta Alice. "É justamente não ser possível", insiste ela. Ademais, seu funcionamento de sobredotada não lhe deixa nenhuma trégua: nem na sua análise permanente do ambiente, dos outros, das situações nem na sua vivência emocional. Não mais viver com suas emoções, é não mais viver de todo.

A aposta, e não os insignificantes: fazer Alice tomar consciência dos meandros de sua personalidade e fazê-la descobrir todos os recursos escondidos em si. E ajudá-la a servir-se como uma força de vida e não mais como um bumerangue autodestruidor.
E, então, apesar de bela, rica e inteligente, Alice se lastima! Mas quem pode compreender ou somente entender uma inverossimilhança parecida?

"No primeiro curso de filosofia, nosso professor, à guisa de sacrosanto, fez-nos preencher o questionário de Proust. Na questão 'Qual dom da natureza teria você gostado de receber?', eu respondi: 'a idiotice'. Ele me fez notar que era muito pretensioso, como resposta. Mas este imbecil teria podido primeiramente esconder aquele sofrimento que havia por trás, que eu não sabia exprimir de outra forma que por uma trirada original ou uma provocação. Eu dizia a quem quisesse entender que não era por nada que se falava de imbecis felizes. Que seria necessário ser um pouco idiota para conseguir ser feliz." Testemunho de um adulto sobredotado.

quarta-feira, 27 de julho de 2016

A inteligência como recurso

"O que há é que é preciso aprisionar este sobremais de inteligência, percebê-la e fazer valer com conhecimento de causa, sobretudo, não mais achatar os outros... nem os subestimar não mais, aliás. Eu chamo isso de inteligência desabrochada e benevolente."

Tal é efetivamente a grande proposta. Como aprisionar este 'muito' de inteligência ou mais exatamente esta 'estranha inteligência', aquela que faz ver a vida de maneira tão diferente, tão amplificada, tão onipresente?

>> A inteligência como vetor da estima de si
A inteligência permite ser autocrítico, o que não comporta senão aspectos negativos. Quando se é inteligente, tem-se consciência dos momentos onde se é... imbecil! Reage-se de forma inadaptada. Não pertinente. E então aqui pode-se rir, zombar gentilmente de si e sobretudo corrigir. É um trunfo maior: a consciência de si e de seus atos permitem uma conscientização do que se é, do que se faz, do que se diz.
Enquanto outros funcionam sem nenhum recuo, o sobredotado pode se colocar em perspectiva. Esta profundidade de campo oferece inúmeros recursos. É preciso aproveitá-lo plenamente. Utilizar esta capacidade para autocrítica e para colocação em perspectiva para avançar. Crescer. Abrir-se. E não mais sofrer por causa dessa introspecção imediatamente negativa. Seja lúcido: é a dúvida que você prova sempre sobre você mesmo que deforma vossa percepção e dá automaticamente esta coloração negativa à imagem que você tem de você. Não é a sua realidade. Quando se pensa em si, pode-se colocar a opção positiva!
Desbravar esses espinhos que escondem uma floresta imensa. Onde podem se aventurar sem medo, e, ao contrário, fazer emergir toda a beleza para vosso maior bem e o dos outros. Não deixar essas ideias negativas ocultarem todas as riquezas escondidas. Elas aí estão. Elas vos pertencem. Aproveitem-nas.
A inteligência, esta forma de inteligência, permite verdadeiramente pegar sua vida na mão, em plena consciência. Vossa capacidade de autocrítica pode vos permitir considerar, também, esta inteligência como uma qualidade que, corretamente utilizada e bem canalizada, pode alimentar uma imagem positiva de si. E estando confiante do que se é, do que se pode realizar. 

>> A inteligência e a evasão pelo pensamento
O mais frequente é falar disso como um defeito. Critica-se, na infância e mesmo no adulto, evadir-se no pensamento. Pode-se compreender que este funcionamento pode ser irritante ou perturbador em certas situações. Mas é também uma maneira muito útil de utilizar seus recursos de pensamento. Se você se acha num momento difícil, que se sinta mal, sofra fisicamente, moralmente, você pode se desembaraçar dessa situação pelo pensamento. Fazer-se carregado e recarregado por ele. O imaginário rico alimentado pela memória, a exarcebação de todos os sentidos e as capacidades de associação podem fabricar um sonho suficientamente forte para vos extrair momentaneamente e vos alimentar. Trata-se de um ato voluntário, de utilização do pensamento como um utensílio a serviço de si. É uma técnica eficiente para não restar devorado no concreto, no pesado do insuportável. O corpo resta lá mas o espírito se destaca e todo nosso ser, físico e psíquico, participa da viagem. Um verdadeiro prazer. Uma verdadeira regalia para todos os sentidos e em todos os sentidos. Um pleno de energia. 
Um só condição para conseguir essa viagem e dela tirar todos os benefícios: guardar o controle. É uma viagem organizada.

>> A inteligência e as capacidades em memória: recordar-se das belas coisas...
A memória impressionante do sobredotado, em particular por tudo o que concerne a recordações pessoais, pode tornar-se um reservatório inesgotável de bem estar.
Esta memória é dita episódica pois ela registra os episódios de nossa vida. No sobredotado, ela é capaz de estocar com nitidez e precisão um número considerável de detalhes. Entre eles encontram-se uma ou mais imagens-recurso. Eu me atenho muito a esta ideia e eu me sirvo dela muito frequentemente em psicoterapia. Procure na sua memória, deixe ressurgir lembranças fugidias, as que são agradáveis, é claro. E você verá, você irá encontrar imagens-recurso. Aquela única evocação mental vos oferece instantaneamente uma sensação de bem-estar. Você a ativa no vosso espírito e tudo se detém em você, você se sentirá bem. 
O princípio é de reativar na memória, inclusive e talvez sobretudo na memória sensorial, todas as impressões vividas no momento onde você está face ou neste cenário que agora você rememora: os sons, as cores, os odores, a temperatura, as texturas, os jogos de sombra e de luz, os minúsculos detalhes que seu cérebro percebeu e registrou. 

Encontrar em si a imagem-recurso que permitirá ficar apaziguado nos momentos difíceis. 

Léo, adulto sobredotado de 35 anos, entusiasma-se quando, em sessão, eu evoco o princípio da imagem-recurso: "Mas eu, eu sempre faço isso! Quando eu era pequeno, nós íamos todos os verões à nossa casa de campo. Eu fazia geralmente bicicleta e eu passava ao lado de um campo muito bucólico semeado de flores selvagens amarelas e brancas. Este campo me fascinava. Para mim, era a imagem da felicidade. Então, quando eu tinha um pesadelo, no escuro de meu quarto, eu fazia ressurgir esta imagem na minha cabeça e logo em seguida eu me sentia melhor. Eu adorava em particular esta brisa leve que fazia movimentar muito docemente as ervas altas e as flores, isto me dava a impressão que se expulsava todas as ideias tristes. Mesmo hoje, chega a ideia de utilizar esta recordação quando eu estou estressado. Eu faço reaparecer esta imagem, como se eu a tivesse sob os olhos, e eu experimento instantaneamente uma sensação de calma. Isto me renova as forças. É quase mágico!"

Eis aqui bem a prova de uma utilização 'terapêutica' da memória. É provável que numerosos sobredotados tenham sabido instintivamente, como Léo, utilizar os benefícios das imagens-recurso. Mais a memória é poderosa, o que é o caso para os sobredotados, mais o sonho é carregado de sensações associadas que vão reforçar a potência evocadora da imagem-recurso e seus benefícios.

Como utilizar a imagem-recurso? 

Pode-se comparar o princípio da utilização da imagem-recurso a um dispositivo que nos projetaria sobre nossa tela mental desde que nós tivéssemos necessidade de fazer desviar nossos pensamentos. No mais, sabe-se hoje que, no nosso cérebro, os circuitos que transportam as emoções pelas zonas positivas ou negativas estão muito próximos e que se pode passar rapidamente de um a outro. Do riso às lágrimas. Esses conhecimentos novos sobre a neurofisiologia das emoções explicam a ação mobilizadora das imagens-recurso que permitem transportar nosso espírito através de extensões calorosas e agradáveis: o estado emocional geral aí se encontra  espontaneamente transformado.

As capacidades da memória podem também desenvolver competências inéditas

UMA MEMÓRIA VISUAL INABITUAL
Nós estamos na passagem do balanço. Eu coloco uma questão de cálculo mental a Thomas, oito anos, Seu olhar se imobiliza, como se ele olhasse atrás de minhas costas (eu estou diante dele). Para fazer seus cálculos, Thomas visualizava os objetos que ele via atrás de mim e os fixava na sua memória a curto prazo. Depois, ele manipulava mentalmente esses objetos para obter a solução, justa, do cálculo.

A MEMÓRIA A LONGO PRAZO SOBREUTILIZADA
Nas experimentações científicas recentes, apareceu que os jovens adultos utilizavam a memória de longo prazo para resolver muito rapidamente os problemas complexos de cálculo mental. No lugar de ativar as operações necessárias, eles iam procurara na memória a longo prazo os resultados de cálculos que eles tinham feito precedentemente e cujos dados estavam próximos daqueles desse novo problema. Eles visualizavam as respostas sobre sua tela mental.
Surpreendentes procedimentos, muito diferentes dos correntemente empregados, e que traduzem bem as competências inéditas da memória visual dos sobredotados. Competências confirmadas pelas neurociências. 

OS TRUNFOS DESSA FORMA PODEROSA DE MEMÓRIA
O interesse? Uma memória fotográfica que pode estocar, intactas, cenas inteiras (reais ou abstratas) com todos os detalhes. Um indício, e a imagem completa revém em memória e pode ser novamente utilizada. Esta memória, mesmo nos adultos que pensam ter sufocado suas capacidades intelectuais, está sempre presente. 

COMO UTILIZAR ESTA SUPERMEMÓRIA?
Para reativá-la, abra os olhos, olhe, feche os olhos, descreva o que você vê na sua cabeça. Então? Parecido em todo mundo, pensa você? Teste e compare. Você se dará conta que você registrou mil e um detalhes passados despercebidos no seu teste! O exercício é fácil e muito reconfortante pois você pode aumentar a dificuldade e reencontrar uma potência de memória que vos proporcionará uma grande jubilação e que, eu tenho certeza, você saberá utilizar eficazmente na sua vida!

>> Jogar com sua inteligência como com um jogo de "pequeno químico"
A inteligência disseca e carrega uma compreensão total da menor das componentes do que se observa, do que se pensa. Pode-se então jogar em examinar até a menor unidade, mesmo se na ponta de um momento inventa-se hipóteses novas. Pode-se provocar um problema difícil e em seguida juntar todas as peças do puzzle: como refazer uma nova imagem? Quando se tem todos os fragmentos, pode-se 'recompor'. Mesma coisa com uma ideia, um pensamento: desenvolve-se até o infinito, exagera-se para descrevê-la num máximo de linhas e depois se reacelera, e se resume. Na realidade, instaura-se uma sucessão de movimentos: num primeiro tempo, diminui-se o pensamento, o tempo. Alonga-se cada ideia, cada proposição, ao máximo. Depois se lhe dá um ritmo resistido, uma rapidez de tratamento das informações coligadas. O cérebro se remete em hiperativação e procurar acelerar-se o mais possível. Depois, retém-se e se reescreve a história: guardando o que é essencial, jogando o acessório, o supérfluo, o inútil, valorizando o que aparece como prioritário, positivo, construtivo, tranquilizador. "Joga-se" com o cérebro e nele fazemos exercícios de estilo utilizando todas as competências: a rapidez, a precisão, a análise.
* Um jogo de pensamento que permite aprofundar ideias e explorar as mais ínfimas componentes. 
* Uma fonte de inspiração poderosa para inventar novas teorias, novos sistemas de pensamento.
* Manipular seus pensamentos para se aventurar ao centro de si mesmo.

Com Stevan em terapia, nós empreendemos um projeto ambicioso: determinar a menor parcela de identidade que constitui o núcleo de cada personalidade. Stevan, entre duas sessões, inunda-se de teorias de todos os grandes pensadores de nosso tempo que refletiram sobre esta matéria psicofilosófica. Ele leu várias obras por semana. Certamente, Stevan fez isso pois é para ele uma primeira etapa para avançar na sua própria vida. Ele quis primeiro compreender, a ele e aos outros, para empreender seu projeto de vida. Trata-se para Stevan de uma passo pessoal incontornável.
Eu o acompanho assim na sua reflexão estimulada que as sessões terapêuticas tornam-se os catalizadores. Estamos na construção de um sistema que constitui a essência da avaliação de Stevan. Ele desenha seus modelos: uma pequena porção de "terra" rodeada de estacas para determinar os contornos. Cada estaca simboliza uma parte de si. A implantação dessas estacas podem assim evoluir ao longo da vida. O sistema de Stevan ilustra a concepção de identidade: ser sempre parecido, a porção original que não pode ser reduzida, tudo estando diferente, nosso território identitário alarga-se, modifica-se segundo as experiências, as evoluções pessoais. Stevan quer fazer uma teoria que possa servir para melhor compreender o homem e ajudar aqueles que estão à deriva. Por que não? O que é certo é que esta ilustração terapêutica representa precisamente a maneira que a inteligência pode ser utilizada para construir e se reconstruir. 

>> A inteligência e arborescência: ideias por milhares...
Sim, nós temos falado muito disso, a arborescência de pensamento pode desordenar as ideias. Sobretudo quando se deve organizar e estruturar o pensamento. Mas, em outros contextos, aprender a explorar este pensamento arborescente pode se tornar a fonte de um grande número de ideias. 

O 'Script-Mind' (1): anotar as ideias aos poucos
((1) técnica terapêutica que eu tenho pessoalmente introduzido e assim denominado.)
A técnica: parte-se de uma ideia, pouco importa qual. Uma nova ideia surgiu, anote-se-a. E anota-se tudo, estritamente tudo, mesmo o que parece sem interesse ou insignificante. Toma-se várias folhas brancas sobre as quais serão escritas as ideias surgidas da arborescência. Uma folha por tema, já que a ordem não é lógica e seqüencial, deve-se inscrever as ideias na medida que aparecem e categorizá-las agrupando-as por folha. Para-se quando quiser. E ao final, reencontra-se um certo número de folhas sobre as quais se ficará surpreso de reler o que foi anotado.
Habitualmente, a ativação da arborescência é tão rápida que numerosas ideias, associações de ideais, pensamentos diversos se apagam tão logo ativadas. Anotá-las permite tomar consciência e retornar àquelas que nos interessam. Isto permite também tomar conhecimento do que se tem "dentro da cabeça". É uma nova ferramenta ao serviço do conhecimento de si.
Esta técnica permite canalizar, mas também não esquecer. Os sobredotados têm medo de esquecer. Eles têm medo de perder suas ideias. E eles a perdem frequentemente aliás! Numa conversação, eles têm necessidade de pegar rapidamente a conversa sob o risco de ver sua ideia lhe escapar, o que o contraria muito. Mas o pensamento vai tão rápido que em alguns mil segundos, ele já passou para um outra coisa. Esse medo do esquecimento vai conduzir alguns a se enlaçar em seu pensamento, a ficar voluntariamente atentos ao que se desenrola na sua cabeça, sob o risco de se castrar do ambiente. 

"Quando eu era pequeno, eu não compreendia tudo e eu procurava tudo compreender, e depois eu me dei conta que a coisa mais horrível era o esquecimento. É preciso sempre tudo reconstruir. Nada é jamais conquistado." Étienne, dezoito anos. Então Étienne, hoje, permanece fixada sobre si mesma para reter todas suas ideias e toda sua compreensão do mundo. Ela está isolada socialmente.

* A técnica do Script-Mind é uma alternativa ao esquecimento. Desembaraçando seu pensamento, ela permite adquirir novos espaços interiores onde poderemos ser acolhidos de novos pensamentos, de novos prazeres de pensamento, de novas experiências de pensamento.

>> A inteligência em grande ângulo: um trunfo multiuso!
Na vida pessoal ou no universo profissional, esta inteligência singular, capaz de pensar um problema ativando simultaneamente representações múltiplas, alarga consideravelmente a compreensão e a análise. Cada problema pode ser estudado sob vários ângulos. Nenhum será negligenciado. Tudo será explorado. 
E, ao final, uma avaliação rara e exaustiva, um poder de reflexão fora do comum, uma visão esclarecida e potencial. Um imenso trunfo a utilizar sem moderação!

Viagem ao coração do pensamento
Como um passeio à vontade do vento, o nariz no ar. Um passeio aleatório no fio desses caminhos de pensamento. Como quando se lê um dicionário e que se salta de uma palavra a outra, de uma ideia a outra, de uma etimologia a uma outra... então as conexões se estabilizam. Dos laços que a priori não teriam podido existir. Viagem no pensamento onde as barreiras do tempo, do espaço se apagam mas também aquelas da lógica, do racional. Nem se restringem nem se impõem freios. O prazer do passeio, é tudo. Esquecer o medo e a dúvida. A autocrítica também, instantânea: é nulo! Certamente não. E mesmo se o fosse, por que não?

terça-feira, 17 de maio de 2016

A hipersensibilidade como talento

>> A emoção no coração da inteligência
A emoção é uma componente essencial do pensamento... inteligente! A capacidade de reparar precisamente suas emoções e aquelas dos outros é um talento.
Os sobredotados são particularmente dotados na matéria: eles captam toda sorte de emoções, mesmo a mais tênua. Eles sabem antecipá-la. Eles podem tentar canalizá-la. Controlá-la. E é aí que estes captadores emocionais podem se tornar aliados. Quando se sente uma emoção que não é ainda expressa, quando se adivinha a aposta emocional de uma situação, pode-se utilizar essas percepções para atravessar um momento difícil ou para ajudar os outros a fazê-lo.
Louis me explica que os filmes de horror jamais o deixaram com medo. Por quê? Ele analisou os mecanismos fisiológicos do medo. Quando ele olha esse gênero de filmes, ele compreende que para antecipar um medo previsível, seria suficiente acelerar seu ritmo cardíaco. Ele sincroniza antes da sobrevinda da cena assustadora colocando seu corpo num estado que o medo repentinamente teria sido fisicamente desencadeado (pois bem certo ele integrou e decompôs os artifícios do cenário). Seu corpo e seu espírito estão prontos a viver a cena tendo neutralizado a emoção violenta...
Sentir finamente e com todos os sentidos as emoções permite também melhor compreender-se. Todas as emoções estão associadas a manifestações fisiológicas. As emoções emitem sinais anunciadores pelos quais se saberá ou não perceber e decodificar. Dotado deste sexto sentido, o sobredotado sabe, antes que o evento se desencadeie, a carga emocional que ele contém.
* Ele pode se servir para se ajustar (como no exemplo de Louis e do filme de horror), vivendo assim melhor a situação sem se fazer transbordar.
* Ele pode antecipar e prevenir alguns perigos, para ele ou para seu entorno.
* Ele pode permitir evitar o desencadeamento de um conflito, como quando se percebe que um mal-estar existe entre duas pessoas e que a discussão está próxima de explodir. Pode-se desviar a atenção, dizer algumas coisas que tranquilizarão os protagonistas, que servirão de impedimento do conflito todo próximo. As crianças fazem-no frequentemente quando elas sentem a tensão subir entre seus pais...

>> Todos os sentidos a serviço do prazer de viver

A hiperestesia redobra as possibilidades
A colocação em ação de todos os sentidos simultaneamente e sua notável capacidade de discriminação, dão ao sobredotado uma presença no mundo fora do comum. A hiperestesia amplifica todas as percepções. Ela permite criar o bonito lá onde os outros não verão senão o banal. Ela ilumina o mundo pela densidade emocional que todos os sentidos proporcionam. A hiperestesia pode ser utilizada para capturar o ambiente e o magnificar. Utilizar todos os sentidos para abraçar o mundo.
Tudo sentir pode ser um imenso prazer e a fonte de momentos mágicos de vida. Aproveitá-los para se reabastecer desde que você o deseje. Esta força está em você. Utilize-a plenamente para sentir-se vivo.

A poética e a estética
O senso do belo, a sensibilidade ao real, ao que toca, é a essência mesmo da estética. O que não é uma questão de gosto, mas de sensibilidade.  A estética permite se harmonizar ao mundo naquilo que ele tem da mais íntimo. A estética é uma disciplina filosófica que se refere à percepção da forma (no sentido da Gestalt), quer dizer da globalidade do que é percebido. o senso estético é esta capacidade de perceber pelo intermédio de todos os sentidos e com uma sensibilidade perspicaz, a quintessência das coisas. A estética percebe por sua vez o escondido e o visível, o interior e o exterior e abraça o mundo com uma profundidade chocante. A estética é uma outra maneira, sensível e autêntica, de compreender a vida.
A poética não é somente a arte de compor os poemas. O caráter poético fala da capacidade de esquecer a si mesmo para exaltar a beleza da natureza ou do outro. A poética cria um laço íntimo com o ambiente. A poética, é o poder de se imergir inteiramente ao ambiente para dele absorver a essência ou a identidade. O poético é uma comunhão com o mundo pela capilaridade sensitiva.
Poética e estética estão estreitamente ligadas. Poética e estética emanam da hipersensibilidade e exaltam as possibilidades. Frequentemente fugidia, sua plena expressão torna vivo e presente o mundo que nos rodeia e nos permite ressoar com eles em harmonia perfeita. É uma porta formidável através da beleza da vida.